domingo, 18 de setembro de 2011

Sobre Contos de Fadas...

-- O texto a seguir é de responsabilidade da autora e de maneira alguma representa os pensamentos das outras escritoras deste blog – nem mesmo, quem sabe, da própria autora. --

a.k.a The Do’s and Don’ts of a Damsel in Distress


Tenho pensado sobre contos de fadas ultimamente...

Sejamos sinceras: A maior porcentagem da população masculina (não importa o que eles digam) se sente atraída a belas moças, pequenas, delicadas, (aparentemente) incapazes de seguir pela vida sem uma mão forte que as guie. Deve ser algo instintivo, essa necessidade de ser o macho-alfa. E admitamos, meninas: a maior parte da população feminina, seja o espécime em estudo do mais alto grau de independência, igualmente se sente atraída por aquele homem alto, forte, educado, que entra de redemoinho na sua vida e parece tomar conta da situação. Era uma vez o “claro que vamos no cinema hoje à noite!” e entra o “Ah, eu vou ver com o Adriano...”, que se traduz por, “se ele não for, eu também não vou.

Só há uma conclusão: estamos (quase) todas esperando por aquele príncipe que está em algum lugar lá fora cavalgando num belo garanhão branco. Já esta criatura mítica – me refiro, obviamente, ao príncipe, e não ao cavalo – está à procura de uma moça adormecida, ou presa numa torre alta, ou num estado vegetativo dentro de um esquife de vidro – ou seja, ele está procurando a donzela em perigo, outra criatura tão mítica quanto ele ou um unicórnio. Esta é uma situação explosiva que pode terminar em i. frustração e, ii. desapontamento.

O conselho da tia vem agora: moças, sejam realistas e não pensem que seja impossível que em certas ocasiões o Adriano (nome meramente ilustrativo) pareça mais o ogro do que o príncipe da história. Dê um desconto para o coitado de vez em quando. Você sabe muito bem que há horas em que você não é nenhuma princesa – principalmente pela manhã, depois de uma noite mal dormida, com seu cabelo em nós e atrasada para o trabalho. Trate os outros, inclusive o Adriano, com a mesma delicadeza com a qual você gostaria de ser tratada. Se os outros não correspondem da mesma forma, ao menos você tem a satisfação de saber que você é um ser superior.

No entanto, isso não quer dizer que você pode largar tudo de mão! É uma atitude derrotista, a de, “já que não sou perfeita pra que tentar?”, infelizmente adotada por muitos. Sempre há algo que pode-se fazer a respeito. Até mesmo os contos de fadas – sim, esses mundos imaginários povoados por pessoas idealizadas, sejam elas de todo, más ou boas – tem alguns pontos interessantes sobre o assunto, como manter um relacionamento saudável. Tudo, segundo Branca de Neve, parece reduzir-se a: seja uma Donzela em Perigo. Não sempre, claro. Isso seria irritante, tanto para você como para TODOS os outros ao seu redor, mas deixe o Adriano sentir-se útil e apreciado de vez em quando. Como fazer isso? Eis alguns exemplos:

The Do’s and Don’ts of a Damsel in Distress

Do’s
1.       Encante – Seja com sua bela voz, charmosa o suficiente para atrair coelhos do bosque, elevada em canção (!!!), ou o seu alto conhecimento de logaritmos e sua aplicação na física quântica (...nem me perguntem...), deixe o rapaz se sentir sortudo por ter te conquistado.
2.       Higiene ­Não precisa colocar trapos e ir esfregar o chão de joelhos (vou explicar isso bem, antes de alguém ficar ofendida). Tudo que isso significa é: seja organizada, na medida do possível. Uns livros soltos pelo quarto, uns sapatos largados ao pé da cama, o secador de cabelo no chão (pra esfriar)... tudo isso é compreensível; saudável até. Agora, poeira acumulada há um mês e a caixa de areia do Floquinho num canto do quarto... isso não é atraente. Te faz perder amigas também. Sério.
3.       Seja delicada – sim, eu sei que você consegue levantar 20 kg com uma mão só na academia J e você é perfeitamente capaz de abrir as benditas portas por si mesma, mas deixe o Adriano abrir um vidro de palmito de vez em quando, ou aquela janela emperrada que você sabe que vai causar sua unha a quebrar se você a empurrar com mais força.


Don’ts

1.       Não seja a Bruxa – Não precisa fazer escândalo com cada coisinha que ele esquece e faz de errado. É claro que há coisas que não há como deixar passar – Elisa, de Os Cisnes Selvagens, é aqui o meu exemplo de Não Faça. O príncipe ia a deixar ser queimada na estaca e no final ela casa com ele?! Mil vezes não! Simplesmente isso: saiba escolher suas batalhas. Mas por favor, converse, e não faça escândalo... os vizinhos e estranhos em lugares públicos não estão tão interessados em sua vida...
2.       Não seja princesa demais – Tradução: não seja fresca. Assim como você, ele sabe que você consegue abrir portas, vidros de palmito, janelas, levantar 20 kg na academia e até salvar gatinhos presos em alto das árvores. Não precisa exagerar.
3.       Não tente dirigir o cavalo – Sim, a gente sabe que provavelmente ele vai rodar em círculos por um longo tempo, mas introduza a idéia de pedir por informações a transeuntes com cuidado e sem gritar ou o chamar de nomes depreciativos. É claro que você vai ter que sair um pouco mais cedo de casa, mas deixe ele ir pelo caminho que ele quer – dentro das leis de trânsito e do bom senso, é óbvio. Deixe-o cansar. Em algum ponto ele fatalmente irá pedir sua opinião. Essa é a sua hora. Santamente indique o caminho certo. Ou melhor: ofereça-se para dirigir.

Agora, você deve estar pensando, “interessante essa análise. Qual foi o resultado da experiência?” Errr... bem, não houve experiência. O meu Adriano, eu tenho certeza, está em coma em algum lugar nesse mundo. Nada mais explica o atraso do sujeito...
Meninas, isso é tudo conjectura. (Tentando se esconder dos vegetais podres sendo jogados em sua direção). Como eu disse, tenho pensado sobre contos de fadas... Mas faz um pouco de sentido, não faz? :D

Daí a multidão de mulheres ofendidas perguntam, “mas como é isso? Nenhuma regra para os Adrianos do mundo?!” Oh-ho! Nem me deixem começar!! A regra número um para príncipes em cavalos brancos é, pare de andar com o cavalo em círculos e escolha um caminho a seguir logo, ora bolas... Ele está em coma. Eu sei que ele está em coma...


3 comentários:

  1. Adriano? hahahahaha
    Gostei, Kate! Fiquei pensando o seguinte: e esses príncipes são meio necrófilos também... Sabe que uma das histórias mais tradicionais da Branca de Neve ela está morta engasgada na maçã. O príncipe está de passagem e vê o esquife de vidro dela e se apaixona pela morta dentro. Então ele manda os servos dele levarem o esquife com eles. Só que a galerinha é desastrada. Eles derrubam o esquife e, com a queda, a Branca de Neve desengasga. Moral da história: tem uma? Não, mas o significado da coisa é: ela passa só pode ser feliz depois de passar pelo rito de passagem para a idade adulta. Muitos ritos de passagem envolvem mortes simbólicas. Eu estava lendo no "As raízes históricas do Conto Maravilhoso" do Vladmir Propp e ele diz que no conto russo o herói precisa seguir ao mundo dos mortos antes de completar a busca dele. Dá até para relacionar bem com a Branca de Neve nesse caso, porque ele diz que quando o herói chega à cabana da bruxa (Baba Yaga, no folclore russo), a bruxa lhe oferece comida. Comer a comida dos mortos (porque a bruxa representa o guardião das portas do mundo dos mortos) significa ser um deles. Ou seja, o herói precisa ir até o mundo dos mortos e voltar para poder ser feliz, receber um reino, etc. Então, os heróis nas histórias só podem ser felizes depois que eles "morrerem".Mas daí, também, simbolicamente. É a morte simbólica da infância e a passagem para o mundo adulto. Complexo, né?
    Anyways, contos de fadas ainda está no tema.
    Beijocas!

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  2. Hmm... Coma vale como rito de passagem para o amadurecimento? ;D

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  3. Coma? hm...
    Se você considerar ele como uma morte simbólica... tipo, se ele estiver em estado vegetativo acho que está valendo! ahahhaahahahahaha

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